Carta ao Clero da Diocese de Castanhal do Bispo Dom Carlo
Verzeletti depois da decretação da prisão preventiva do Pe. Marcelo de Matos
Tinoco – Castanhal 16.06.2012
Caríssimos sacerdotes,
A decretação da prisão preventiva do Pe Marcelo, sacerdote do
nosso presbitério, nos aflige imensamente, pois o crime do qual é acusado ,
está entre os mais odiosos. Antes de tudo porque se refere ao abuso de menores
e conhecemos bem o que o Evangelho diz a respeito de quem escandaliza os
pequenos. Em segundo lugar porque o abuso teria sido cometido por um educador
que traiu a confiança que os pais depositaram nele visando o crescimento sereno
e integral de seus filhos. Enfim porque teria sido cometido por um padre que,
por missão, deve ser sinal da presença e instrumento da ação do Senhor Jesus
que passou fazendo o bem, que nunca usou engano e violência com ninguém. Por
todos estes motivos é difícil pensar a algo mais grave.
Não posso ignorar a dedicação do Pe Marcelo no trabalho pastoral
da catedral e nas diversas pastorais, dedicação reconhecida pelos numerosos
testemunhos de carinho e gratidão que recebi nestes dias por parte de muitas
pessoas. Enquanto não se comprovar a acusação, continuo esperando na
demonstração de sua inocência.
Contudo, esta grave acusação contra o Pe Marcelo recai
inevitavelmente sobre mim e sobre todo o nosso presbitério exigindo de nós uma
resposta. Qual¿ Nestes dias eu senti e penso que vocês também sentiram vergonha
por um fato grave do qual somos acusados e isso nos faz sofrer. Fico preocupado
com aqueles que criaram de nós uma opinião negativa que nos condena
impiedosamente e isso nos queima. Esta vergonha dói na pele. Mas,
paradoxalmente, estou convencido que nos possa fazer bem; liberta-nos de
qualquer tipo de vaidade ou de orgulho; obriga-nos a eliminar as nossas
ilusões, a confessar o nosso nada e isso não nos faz somente mal.
Esta que parece uma desgraça pode se tornar de fato uma
verdadeira graça de Deus. Pois impele todos nós: bispo, padres, diáconos,
religiosas, catequistas, leigos engajados e a Igreja toda, a nos converter, a
sermos autênticos, fieis, santos. Esta dor pode se tornar um meio precioso de
purificação e de liberdade. “Perder a cara” é um dos sofrimentos mais
humilhantes; mas, se o aceitamos de verdade (e isso não é fácil!), nos torna
livres. Não temos nada a perder; podemos ser pobres cristãos sem pretensão e
por isso sem temor algum.
Todavia, no fato não está envolvida somente a minha pessoa; está
envolvida a imagem da Igreja e isso me dói muito mais; Estou a serviço da
Igreja; pela Igreja entreguei a minha vida, minha vida está ligada a tudo
aquilo que a Igreja anuncia e promete. Conheço bem os meus limites, os limites
de bispos e papas, de tantos crentes... Conheço bem a historia da Igreja para
reconhecer com humildade a fraqueza dos homens de Igreja. João Paulo II
confessou diversas vezes os pecados da Igreja na historia; e eu me senti
envolvido neste pedido humilde de perdão, mesmo se referido a fatos antigos
pelos quais não tenho evidentemente responsabilidade pessoais. Da mesma forma é
justo que nós peçamos perdão por todos os abusos dos quais membros da Igreja
tornaram-se responsáveis, sobretudo se feitos contra pessoas vulneráveis,
contra menores.
Mas como podemos suportar um julgamento global negativo¿ Como
São Paulo nos fala na carta aos Efésios, Jesus amou a Igreja e purificou-a com
o seu sangue, com o dom da sua vida. Apesar de tudo, a Igreja é santa; não
porque nós, pobres sacerdotes, somos sem pecado; mas porque na Igreja está a
presença viva de Cristo e esta presença é fonte de purificação perene. Devemos
reconhecer de não sermos uns bons cristãos; mas podemos proclamar que a
pertença na Igreja não nos tornou falsos ou ambíguos, mas sempre nos ajudou a
tornar-nos mais sinceros e autênticos. Podemos responsabilizar-nos pelos nossos
pecados; mas devemos reconhecer à Igreja o dom santo de Cristo e do Evangelho.
Por isso continuaremos a ser Igreja e a servir a Igreja com
alegria. Esta Igreja de Castanhal, onde o evangelho continua produzindo frutos
de bem. Envergonhar-nos-emos de nós e dos nossos pecados; mas nunca nos
envergonharemos do evangelho e do seu ensinamento. Envergonhar-nos-emos pelas
incoerências das nossas comunidades cristãs; mas nunca nos envergonharemos do
Espírito Santo que nos foi dado e que faz de nós verdadeiros filhos de Deus.
Este momento nos chama para o reconhecimento sincero dos nossos
pecados, da nossa necessidade de misericórdia e da nossa comum missão de
ajudar-nos uns aos outros a reconhecer nossas culpas para a nossa recíproca
salvação.
Por isso, seguindo o exemplo do Santo Padre que nestas
circunstancias convidou a Igreja a penitencia, convoco todo o povo de Deus da
nossa Diocese de Castanhal, paróquias, comunidades, movimento e grupos, a fazer
do Sábado, 23 de junho próximo, um dia de jejum e de oração, implorando de Deus
o dom da conversão.
Meu queridos irmãos, quis partilhar com vocês sentimentos,
temores, desejos que vivo nestes dias; sinto-me aliviado mesmo só falando com
vocês. O Senhor vos abençoe, conforte o vosso coração, vos dê “uma esperança
viva, uma herança que não se corrompe, não se mancha e não apodrece”.
Dom Carlos Verzeletti
Bispo Diocesano
Queridos padres, Peço-lhes que falem deste fato ao nosso povo,
nas missas deste domingo, lendo o texto na integra, ou parte dele e motivando-o
para o dia de penitencia.
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