segunda-feira, 25 de junho de 2012

DOM CARLOS ENVIA CARTA DE PERDÃO A TODOS OS PAROQUIANOS DA DIOCESE SOBRE CASO DE PEDOFILIA EM CASTANHAL COM PADRE




Carta ao Clero da Diocese de Castanhal do Bispo Dom Carlo Verzeletti depois da decretação da prisão preventiva do Pe. Marcelo de Matos Tinoco – Castanhal 16.06.2012

Caríssimos sacerdotes,
A decretação da prisão preventiva do Pe Marcelo, sacerdote do nosso presbitério, nos aflige imensamente, pois o crime do qual é acusado , está entre os mais odiosos. Antes de tudo porque se refere ao abuso de menores e conhecemos bem o que o Evangelho diz a respeito de quem escandaliza os pequenos. Em segundo lugar porque o abuso teria sido cometido por um educador que traiu a confiança que os pais depositaram nele visando o crescimento sereno e integral de seus filhos. Enfim porque teria sido cometido por um padre que, por missão, deve ser sinal da presença e instrumento da ação do Senhor Jesus que passou fazendo o bem, que nunca usou engano e violência com ninguém. Por todos estes motivos é difícil pensar a algo mais grave.

Não posso ignorar a dedicação do Pe Marcelo no trabalho pastoral da catedral e nas diversas pastorais, dedicação reconhecida pelos numerosos testemunhos de carinho e gratidão que recebi nestes dias por parte de muitas pessoas. Enquanto não se comprovar a acusação, continuo esperando na demonstração de sua inocência.

Contudo, esta grave acusação contra o Pe Marcelo recai inevitavelmente sobre mim e sobre todo o nosso presbitério exigindo de nós uma resposta. Qual¿ Nestes dias eu senti e penso que vocês também sentiram vergonha por um fato grave do qual somos acusados e isso nos faz sofrer. Fico preocupado com aqueles que criaram de nós uma opinião negativa que nos condena impiedosamente e isso nos queima. Esta vergonha dói na pele. Mas, paradoxalmente, estou convencido que nos possa fazer bem; liberta-nos de qualquer tipo de vaidade ou de orgulho; obriga-nos a eliminar as nossas ilusões, a confessar o nosso nada e isso não nos faz somente mal.

Esta que parece uma desgraça pode se tornar de fato uma verdadeira graça de Deus. Pois impele todos nós: bispo, padres, diáconos, religiosas, catequistas, leigos engajados e a Igreja toda, a nos converter, a sermos autênticos, fieis, santos. Esta dor pode se tornar um meio precioso de purificação e de liberdade. “Perder a cara” é um dos sofrimentos mais humilhantes; mas, se o aceitamos de verdade (e isso não é fácil!), nos torna livres. Não temos nada a perder; podemos ser pobres cristãos sem pretensão e por isso sem temor algum.

Todavia, no fato não está envolvida somente a minha pessoa; está envolvida a imagem da Igreja e isso me dói muito mais; Estou a serviço da Igreja; pela Igreja entreguei a minha vida, minha vida está ligada a tudo aquilo que a Igreja anuncia e promete. Conheço bem os meus limites, os limites de bispos e papas, de tantos crentes... Conheço bem a historia da Igreja para reconhecer com humildade a fraqueza dos homens de Igreja. João Paulo II confessou diversas vezes os pecados da Igreja na historia; e eu me senti envolvido neste pedido humilde de perdão, mesmo se referido a fatos antigos pelos quais não tenho evidentemente responsabilidade pessoais. Da mesma forma é justo que nós peçamos perdão por todos os abusos dos quais membros da Igreja tornaram-se responsáveis, sobretudo se feitos contra pessoas vulneráveis, contra menores.

Mas como podemos suportar um julgamento global negativo¿ Como São Paulo nos fala na carta aos Efésios, Jesus amou a Igreja e purificou-a com o seu sangue, com o dom da sua vida. Apesar de tudo, a Igreja é santa; não porque nós, pobres sacerdotes, somos sem pecado; mas porque na Igreja está a presença viva de Cristo e esta presença é fonte de purificação perene. Devemos reconhecer de não sermos uns bons cristãos; mas podemos proclamar que a pertença na Igreja não nos tornou falsos ou ambíguos, mas sempre nos ajudou a tornar-nos mais sinceros e autênticos. Podemos responsabilizar-nos pelos nossos pecados; mas devemos reconhecer à Igreja o dom santo de Cristo e do Evangelho.

Por isso continuaremos a ser Igreja e a servir a Igreja com alegria. Esta Igreja de Castanhal, onde o evangelho continua produzindo frutos de bem. Envergonhar-nos-emos de nós e dos nossos pecados; mas nunca nos envergonharemos do evangelho e do seu ensinamento. Envergonhar-nos-emos pelas incoerências das nossas comunidades cristãs; mas nunca nos envergonharemos do Espírito Santo que nos foi dado e que faz de nós verdadeiros filhos de Deus.

Este momento nos chama para o reconhecimento sincero dos nossos pecados, da nossa necessidade de misericórdia e da nossa comum missão de ajudar-nos uns aos outros a reconhecer nossas culpas para a nossa recíproca salvação.

Por isso, seguindo o exemplo do Santo Padre que nestas circunstancias convidou a Igreja a penitencia, convoco todo o povo de Deus da nossa Diocese de Castanhal, paróquias, comunidades, movimento e grupos, a fazer do Sábado, 23 de junho próximo, um dia de jejum e de oração, implorando de Deus o dom da conversão.

Meu queridos irmãos, quis partilhar com vocês sentimentos, temores, desejos que vivo nestes dias; sinto-me aliviado mesmo só falando com vocês. O Senhor vos abençoe, conforte o vosso coração, vos dê “uma esperança viva, uma herança que não se corrompe, não se mancha e não apodrece”.

Dom Carlos Verzeletti
Bispo Diocesano


Queridos padres, Peço-lhes que falem deste fato ao nosso povo, nas missas deste domingo, lendo o texto na integra, ou parte dele e motivando-o para o dia de penitencia.

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